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ALEXANDRE MORAES: “A experiência do 5G no Brasil despertou o interesse de outros países da América Latina e África, todos dispostos a conhecer o nosso modelo para tentar entender e adaptar às suas necessidades.”

Alexandre Moraes é doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (2019) e especialista em regulação na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em entrevista ao Conecte 5G, o especialista fala sobre o processo de leilão de 5G no Brasil, aspectos bem-sucedidos da regulação e fóruns de telecomunicações sobre a nova tecnologia.

Moraes participa dos trabalhos da União Internacional de Telecomunicações (UIT) e relata sobre sua experiência na elaboração do documento que antecipa as diretrizes da tecnologia de sexta geração de internet.

Conecte 5G

Conte um pouco sobre sua experiência na União Internacional de Telecomunicações

Alexandre Moraes | Anatel

Acredito que seja importante falar do que se trata a União Internacional de Telecomunicações. Este é o órgão de tecnologias da informação e da comunicação das Nações Unidas. Desenvolve-se um trabalho bastante relevante e é importante frisar que todos podem participar.

A Anatel organiza essa participação por meio das Comissões Brasileiras de Comunicações (CBCs), por meio de quatro subcomissões temáticas. Uma delas é a Comissão de Governança e Regimes Internacionais (CBC1). Nesta, são tratadas as questões de governança e regimes internacionais, como governança da internet, telecom, além dos fóruns que acontecem para alinhamento e debates de temas.

Há também a Comissão de Radiocomunicações (CBC2). Nesta eu participei mais ativamente. Trata-se sobre rádiocomunicações e tudo o que envolve os mecanismos regulatórios de comunicação via rádio. Este trabalho vem sendo liderado na Anatel pelo Vinicius Caram, que é o Superintendente de Outorga.

Uma terceira comissão tem o foco em Normatização de Telecomunicações, coordenada por Nilo Pasquali e com vice-coordenação do Abraão, que trata na UIT do setor de padronização.

Então, enquanto na UITR trata-se de questões de rádiocomunicações e de espectro, a parte de padronização é responsável por assuntos bastante relevantes, a exemplo de questões de metaverso e inteligência artificial.

A última vertente é o de Desenvolvimento das Telecomunicações (CBC4), que é coordenado aqui na Anatel pela Cristiana Camarate e com a vice-coordenação da Andrea, que atua na cena Internacional. Esta equipe, na qual são tratados temas de desenvolvimento de telecomunicações, desempenha um trabalho relevante de compartilhar experiências com outros países. Eles realizam ações de cibersegurança e gestão de queixas de usuários.

Mais uma vez quero destacar que qualquer um pode participar.  Esse trabalho é coordenado pela Anatel, mas ele pode contar com a participação de qualquer interessado.

Basta acessar o site da Anatel, identificar qual é o foco de interesse e onde é possível contribuir.

Para obter mais informações e se inscrever, basta acessar este link.

Conecte 5G

Estamos em expansão do 5G no Brasil. Após um ano da sua implementação, como avalia esse processo?

Alexandre Moraes | Anatel

Tivemos já nesse um ano, apesar do prazo curto, alguns resultados bastante interessantes.

A experiência do 5G no Brasil despertou o interesse de outros países da América Latina e África, todos dispostos a conhecer o nosso modelo para tentar entender e adaptar às suas necessidades. Mas, conhecendo a nossa experiência, que foi exitosa, eu posso destacar, por exemplo, a questão da intermodalidade.

O Brasil também tem outro diferencial nesta tecnologia. O edital do 5G trouxe obrigações de 4G e de outras naturezas. Uma delas foi exatamente a de levar a conectividade para as escolas, o que é bastante relevante.

Conecte 5G

A elaboração do documento IMT-2030, da União Internacional de Telecomunicações, definiu requisitos para a tecnologia 6G. Quais são estes critérios e quais aspectos são considerados?

Alexandre Moraes | Anatel

Este padrão de telefonia móvel possui não apenas diversos aspectos diferentes, mas também é um padrão que é construído em diversos fóruns. As ações desenvolvidas na UIT tiveram o intuito de construir essa visão do 6G, identificar necessidades e como avançar em relação ao padrão anterior, que é esse do 5G.

Enquanto no 5G há três cenários de uso, no 6G já se desenham seis cenários. Um destes contextos, por exemplo, é a comunicação em banda larga móvel avançada, a comunicação de máquina massiva e a comunicação super confiável e com baixíssima latência. Logo, esses três cenários se mantêm no 6G, mas como parâmetros técnicos agora mais avançados.

E avançamos também criando outros três cenários: conectividade ubíqua; inteligência artificial e comunicações integradas; aplicações de sensoriamento e comunicações integradas. Ou seja, são avanços reais em relação ao 5G.

Em relação às capacidades, há nesse novo padrão seis novas capacidades e eu destaco a interoperabilidade. Estamos começando a falar em Open-RAN para 5G e 4G, mas essa vem como uma necessidade nativa para o 6G. Então a questão da interoperabilidade é relevante e está presente desde o documento que desenha as necessidades. Logo, este aspecto vem para somar nesse novo padrão como uma contribuição importante que o Brasil, o Reino Unido e outros países ofereceram ao participarem da inclusão da interoperabilidade no padrão.

Sobre a construção do documento no Fórum da UIT, participam os países porque é um órgão das Nações Unidas, mas também atuam os segmentos da indústria, colaborando com as questões mais técnicas do que eles conseguem entregar para o padrão. Ou seja, quando se fala, por exemplo, em latência, não são os países que vão dizer qual que é a latência que vai ser colocada, mas sim a indústria que indica o quanto deve ser entregue, tendo como referência as tecnologias anteriores.

Da nossa parte, enquanto país, avaliamos se isso consegue atender às nossas necessidades e indicamos também outras questões técnicas, de segurança, privacidade e outras prioridades.

Um dos parâmetros bastante relevantes do 6G é a questão da sustentabilidade, que entrou como um aspecto basilar a ser considerado para a tecnologia. Não faz sentido a gente falar numa próxima tecnologia, necessidade de investimento e em colocar mais rede para operar sem ter por base ações sustentáveis.

Conecte 5G

A Anatel já estabeleceu diretrizes e regulamentações voltadas para o 6G?

Alexandre Moraes | Anatel

Até o momento não temos normas determinadas. A tecnologia 6G deve ser implementada em 2030 e estamos olhando para um horizonte temporal ainda bastante elástico internamente. O uso das faixas de frequência começa a ser discutido com bastante antecedência e, nesse sentido, o Brasil deve debater o tema na próxima conferência. Já agora, então, é um assunto que, como eu falei, ele funciona nesse ciclo de 4 anos; começamos a explorar o assunto para ter lá em 2030, novas faixas que podem ser usadas pelo 6G.

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Como a atuação de engenheiros pode contribuir para construção de políticas públicas, como a entrega de conectividade em localidades mais distantes?

Alexandre Moraes | Anatel

É importante ressaltar a necessidade de ter gente técnica também no desenvolvimento de políticas públicas, trabalhando na regulamentação, entendendo quais são essas necessidades e fazendo esse meio de campo com o governo para tentar enxergar esse lado técnico, mas também com essa visão mais interdisciplinar para entregar para a sociedade resultados expressivos.

Telecomunicações é um assunto muito complexo e, por vezes, no governo nós precisamos de profissionais com diversos perfis, mas também com habilidades e formação em Engenharia. Vejamos, por exemplo, cada um dos municípios que fazem sua regulamentação de antenas. Certamente eles precisam de engenheiros para atuar nesta tarefa. Este trabalho tem bastante impacto positivo e considero um ponto importante destacar que essa atuação de engenheiros gera frutos que refletem para a sociedade como um todo

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